menção honrosa - paraty
Competição:Concurso Centro Cultural de Eventos e Exposições – Cabo Frio, Nova Fribugo e Paraty
Premio:Menção Honrosa - Paraty
Projeto:
Autores:Filipe Gebrim Doria, Fernanda Mangini, Luiza Itokazu e Sérgio Zancopé (imagens 3D), Rulian Nociti de Mendonça, 2014, Paraty - RJ
Na sequência de publicações dos vencedores do Concurso Centro Cultural de Eventos e Exposições – Cabo Frio, Nova Fribugo e Paraty, mostramos desta vez o projeto que foi premiado com Menção Honrosa para a cidade de Paraty, de autoria do arquiteto Filipe Gebrim Doria. A seguir, imagens e a descrição da proposta pelo autor.
Do arquiteto: Pensar um projeto para a cidade de Paraty, dada a sua relevância como patrimônio edificado, nos leva antes de tudo a uma reflexão acerca das condições urbanas existentes. Trata-se de uma cidade histórica, onde tanto as áreas antigas como as novas possuem uma urbanização com lotes de tamanho reduzido, a escala das construções é basicamente a do gabarito dos sobrados, os quarteirões são bem consolidados, definindo o espaço público por excelência, a rua.
A área escolhida para o CCEE está situada em um bairro fora do centro histórico, o mesmo possui urbanização mais recente, ainda pouco consolidada. O terreno encontra-se no limiar entre a área loteada e o início da mata Atlântica que se estende em direção a Serra do Mar.
A partir de uma primeira abordagem chega-se a duas condicionantes que irão direcionar o partido do projeto:
- O tipo de urbanização da cidade, tendo em sua grande maioria construções de escala e gabarito reduzido
- O local no qual o edifício se insere, tendo contato direto com a natureza a seu redor.
O programa proposto vem de encontro a isso na medida em que se caracteriza pelo uso público, o que fortalece e propicia a ideia de integração entre o edifício e o meio que o cerca. No entanto a demanda de espaços amplos e generosos, para atender a um grande público, cria uma dualidade entre a escala da intervenção e seu entorno.
PARTIDO
O partido adotado responde em um só tempo a todas as questões. O que se propõe não é um único edifício mas um conjunto de elementos edificados e não edificados que gere um espaço que atenda ao programa e se insira no meio urbano e na paisagem de forma clara e precisa.
Um grande pavilhão de 100x60 metros, com malha modular de 5x5 metros materializada por um conjunto de vigas e pilares de madeira. “Uma cobertura que constrói o território, que protege sem subtrair a luz do sol, que realiza a grandeza do espaço, independentemente das suas dimensões, na medida em que estabelece um centro contíguo a tudo, onipresente tanto no plano horizontal como no vertical – o lugar onde o dentro é maior que o fora”.
Os volumes internos que abrigam os espaços fechados são dispostos a partir de uma rígida lógica baseada no atendimento funcional e na modulação racional. O projeto explora essa tensão tornando uma aparente limitação em um fator de criação de espaços diversos. Mantem-se dentro de uma forma prismática a flexibilidade necessária para abrigar a variação de usos e espaços, todas elas contidas pelas proporções precisas dos limites. “Na tensão entre a afirmação da ordem e a aleatoriedade da vida encontra-se um sentido”.
A disposição rompe com o usual para este tipo de programa, alterando a relação entre circulações, espaços de permanência e usos, tornando o um espaço uno, onde a noção de começo e fim, dentro e fora, abrigado e não abrigado passa a ser questionada.
A transição entre a área externa e interna se dá de maneira gradual, como uma experiência sensorial. Para quem chega pela Avenida Vera Cruz há uma esplanada entre a calçada e o prédio, esse recuo permite ao observador uma contemplação do conjunto e da escala do edificado.
Caminhando pela mesma, que cumpre o papel urbano de uma pequena praça, livre para todo tipo de apropriação, acompanha-se o espelho d água e a vegetação que permeiam o edifício, fazendo alusão as mares altas que invadem as ruas de Paraty nas cheias.
A entrada se dá através de um platô que faz a transposição do nível da calçada para o nível do pavilhão. Já dentro do mesmo, abrigado pela cobertura com pé direito de 4.5m, composta por 3 camadas; tela metálica, vidro e pergolado de madeira, que filtram e dão forma a luz, tem-se acesso a todas as áreas do programa, dispostas dentro de volumes de vidro autoportante semitranslúcidos que fazem a transição final entre espaço externo e interno de forma poética.
A materialidade do vidro contrasta com o aconchego da madeira e do paisagismo dando um ar contemporâneo ao conjunto. A semitransparência esvazia o sentido de massa e permite que o observador crie mentalmente uma imagem abstrata do que ocorre no interior sem desvendá-lo previamente.
ESTRUTURA / FUNCIONALIDADE
O programa está distribuído de forma a hierarquizar e ordenar os usos e as circulações. Os espaços fechados que abrigam o programa possuem estrutura independente, com vigas e pilares metálicos e cobertura em telha dupla com isolamento termo acústico.
O pé direito atende as necessidades funcionais dos usos propostos, com altura livre e generosa e entre forro para instalações. Particularmente no volume que abriga o espaço multiuso cria-se uma área da edificação com 2 pavimentos para abrigar espaços do programa que não demandam pé direito elevado, como os banheiros, o escritório da administração e as áreas de apoio.
Na fachada noroeste, dispõem-se o auditório e o salão multiuso, que são as maiores concentrações de área do programa e caracterizam-se como espaços com menor relação com o exterior. Para vencer o vão de 20 metros que ambos possuem foi adotado o sistema de vigas vagão. O mesmo contribui com a espacialidade das salas na medida em que se compõe de um belo conjunto de extrema leveza visual.
O espaço multiuso, com possibilidade de compartimentação, conta com ampla flexibilidade, podendo servir a todo tipo de evento. Um corredor lateral organiza o acesso as áreas de apoio podendo garanti-lo ou restringi-lo conforme a necessidade de cada utilização.
Pelas duas laterais do edifício ocorre o acesso de carga e descarga, por elas chega-se a todas as áreas de serviço ou restritas como depósitos, cozinhas, banheiros, administração, camarins, etc. sem interferir no fluxo dos usuários. Voltados para a fachada frontal estão os espaços fechados que usufruem mais do contato com o exterior; salas de reunião, café e restaurante.
A circulação, externa aos volumes fechados, se dá por espaços amplos, que funcionam como uma espécie de rua coberta. As 4 faces do edifício possuem tratamento semelhante, não subjugando ou hierarquizando sua relação com o entorno.
Os volumes fechados possuem fachadas compostas por portas em chapa metálica, vidro semitranslúcido autoportante e vidro criando uma composição dinâmica que possibilita a variação funcional necessária, possibilitando uma relação visual maior ou menor entre interior e exterior conforme a proporção adotada para cada um dos elementos.